A
Inquisição - 03.
Continuação
do post anterior.
A
tortura e o temor distorciam a verdade, vizinhos acusavam-se
mutuamente, cristãos denunciavam companheiros de religião, crianças
testemunhavam contra os próprios pais, era família contra família,
esposas delatavam seus maridos, camponeses voltavam-se contra seus
senhores, foi um reinado de horror, no qual eram forçados a delatar
uns aos outros.
Numa
cidade do norte da França chamada Arras, um grande centro
manufatureiro, um pobre ermitão foi condenado a ser queimado como
bruxo. Tentando escapar da tortura, ele prontamente denunciou uma
prostituta e um velho poeta até então mais conhecido por seus
poemas à Virgem Maria. Estes dois, por sua vez, acusaram outras
pessoas e logo começaram as fogueiras. E a Igreja foi a principal
responsável pelas mudanças na atitude das pessoas e na política
oficial que resultaram numa grande carnificina.
Os
métodos para se extrair confissões não eram nada agradáveis, as
pessoas não tinham benefício de um júri e também não tinham
permissão de confrontar seus acusadores, aliás nem chegavam a saber
a identidade de seus delatores. As confissões eram extraídas de
todas as maneiras possíveis, já que nos termos da lei canônica os
réus só seriam condenados mediante confissão. Um exército de
torturadores trabalhava diligentemente para atingir esse objetivo. O
quê certamente conseguia. A Inquisição usava como método de
obtenção de confissão a tortura e em alguns casos ao extremo,
levando o torturado à morte.
Segundo
Enry Thomas, grande historiador norte-americano, poderia ser escrito
um livro somente sobre as torturas empregadas pela inquisição,
embora nada agradável:
“O
prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por uma
corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do patíbulo
ou do teto da câmara de tortura, em seguida, deixava-se cair o
indivíduo e travava-se o aparelho ao chegar o seu corpo a poucas
polegadas do solo. Repetia-se isso várias vezes. Os cruéis
carrascos, as vezes amarravam pesos nos pés das vítimas, a fim de
aumentar o choque da queda.“
“Depois
havia a tortura pelo fogo. Colocavam-se os pés da vítima sobre
carvão em brasa e espalhava-se por cima uma camada de graxa, a fim
de que este combustível estalasse ao contato com o fogo."
De
acordo com a lei, tortura só podia ser infligida uma vez, mas essa
regulamentação era burlada facilmente...quando desejavam fazer
repetir a tortura, mesmo depois de um intervalo de alguns dias,
infringiam a lei, não alegando que fosse uma repetição, mas
simplesmente uma continuação da primeira tortura....
Uma
das experiências mais chocantes que podemos viver é visitar um
museu que expõe os instrumentos de torturas usados na Idade Média.
É como entrar numa câmara de horrores. É quase impossível
acreditar que aqueles objetos eram usados para ferir as pessoas.
Aliás, visitar museus que expõem instrumentos de torturas de
qualquer época histórica e de qualquer região do mundo é sempre
uma experiência muito dolorosa, porquê nos depara com a crueldade
humana elevada a altíssima potência. São pessoas abusando de seu
poder para ferir outras pessoas que não podem se defender. A tortura
é a expressão máxima da covardia humana, por isso é tão doloroso
lidar com esse assunto.
Continua
no próximo post.
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